domingo, 28 de dezembro de 2008

Ei moço, dá uma ajudinha aí!

Eram na verdade uns três pivetes, desses sujos, maltrapilhos que ainda não haviam feito a primeira refeição do dia.Assustaram-me, estavam debaixo de mim, isso mesmo, eu estava sobre eles.Estava sentada esperando o carro que viria buscar-me para mais um trabalho quando entre as frestas do banco eu vi uns pézinhos minúsculos, pretos, quase café se mexendo.Afastei-me, medo senti, sentei em outro assento e pus-me a observar o comportamento daquele que eu acordara.Descobri um trio, todos embolados,deitados a espera do amanhecer.Levantaram-se, retiraram a umidez dos olhos,e sentaram.Esse instante é aquele pós-despertar, onde você está entre o sonho e a realidade, e essa ainda não parece tão real assim.É o momento em que se pára e pensa no afazeres do dia.Os três conversaram, como já conheciam o lugar, exploraram uma bica que escapava do muro do shopping próximo para banhar-lhes as cabeças.Se refrescaram, não desejavam permanecer imundos.Os guardas do prédio após perceberem a traquinagem, os enxotaram.As crianças já haviam conseguido o que queriam, apenas riram.Carregavam cada um suas mochilas com um recheio quadrado.Isso me inquietou, curiosa fiquei e anseei um momento em que eles deixariam escapar uma brecha dali.Tentaram de toda forma invadir algum ônibus que teria o motorista desatento e deixaria as portas detrás abertas mais do que devia , porém o trocador estava atento a qualquer movimento suspeito e logo tratava de despejar seus berrões nos meninos.Tentaram mais uma, duas, três, tantas vezes.




Imaginei para onde desejavam ir,escutei rumores que moravam a algumas quadras dali(como assim, teriam teto, familia?).Um homem se aproximou e perguntou porque não iriam a pé.Nada responderam.Embora sem um tostão nos bolsos,esperei o pedido de moedas, a súplica pela volta.Isso não aconteceu, ao contrário do que pensei, saciaram minha curiosidade do conteúdo de suas mochilas.Eles eram engraxates, levavam consigo caixinhas de graxa.Ofereceram-se para dar um belo trato nos sapatos de alguns passageiros a espera de suas conduções e trabalharam.Não pediram, nem roubaram, trabalharam.Observei o esforço do bom serviço,as pequenas mãos persistentes no preto perfeito.Emocionei-me,não resisti, algumas gotas brotaram dos olhos.O atraso do carro que viria me buscar foi pertinente e dessa vez ,exclusivamente, um atraso me foi útil.Da próxima vez nada de medo,nada de rejeição ou sentar-se em outro banco.Oferecerei meus pés.Não tenhamos o mesmo comportamento das autoridades responsáveis pela nossa infância.Aquela minha atitude de receio é consequência do medo latente diante da violência.O trabalho infantil é mais uma mazela causada pelo esquecimento das nossas crianças, onde as oportunidades e direitos das quais elas precisam são negados.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Um pouco de humor alivia a tensão (Meu querido ônibus)

Dependendo daquele que você pega, pode ocorrer uma relação de amor ou ódio.De repente somos obrigados a sentar(se possível) tocar, roçar naquela gente estranha.É a hora em que diversos sujeitos de todos os pontos cardeais se unem sem querer por alguns instantes.Pode ser um desmaio, uma briga de casal,comentarios do jogo da noite anterior ou mesmo piadinhas da gorda que acabara de entrar e irá ocupar boa parte do corredor estreito.Já vi de um tudo, desde a tentativa de roubo do meu guarda-chuva até palavrões sendo trocados de uma ponta a outra.O trocador a essa altura já virou teu amigo, pela tua mãe pergunta.




Se o ônibus for aquele de trajeto temido periferia-área nobre, hum... meu caro, só posso lhe desejar boa sorte.Esses geram dúvidas se mais confortável seria ir a pé mesmo.A trilha que embala a viagem é única, são os refrões repetitivos, versos românticos-melosos tocados nas rádios mais toscas.Engraçada também é a artimanha da famosa "traseira", há toda uma preparação, um processo de coragem e rapidez do praticante.Quando ela acontece é impossivel todos não se entreolharem surpresos deixando escapar fiapos de riso.Alguns ironizam:-ESQUECEU O TROCO!! Um dos meus braços já possui até músculo definido, pra você ver que sua academia pode se esconder dentro de um coletivo.É saúde também porque ali você transpira, os membros são exercitados, o corpo todo funciona, é o desafio de manter equilíbrio tanto físico como mental.

Nele testemunhamos a bondade do povo nos guiando quando muitas vezes só temos como ponto de referência o mercadinho do seu Valdir para descer, e vemos sua má educação quando os lugares aos velhinhos, gestantes e deficientes não lhe são cedidos por prioridade.Tem gente de todo jeito.É empresário cheio pose, estudante com suas mochilas gigantes, mas o proletariado é a grande massa.Não há quem nunca tenha provado o gostinho de se aconchegar nesse tranporte universalmente popular, quem nunca tenha levado aquele odor de axilas como lembrança para casa que não sai das tuas narinas.Apesar do aperto, ele é um verdadeiro laboratório humano.Conhecemos cada figura observando sensíveis atitudes.Se você nunca abriu melhor seus olhos para essa experiência, comece.Garanto que há um lado bom, ao menos engraçado, isso é certo.

domingo, 14 de dezembro de 2008

Meu particular


Por que os instantes paranóicos são os mais inspiradores.Por que o corpo sensível produz com firmeza gestos excitantes e cria um universo todo reprimido na mente .A ressaca já constante é irmã de apoio, segue,é infindável.Frases curtas são o bastante.Pouco lirismo e achismos proclamados em discursos sem sentido.Prefiro o risco, o calor o incômodo.O conforto é desnecessário,pai da preguiça ele não altera os estado das coisas.A confusão, os gritos andam seguindo o vento que sopra em direção a minha casa alugada.A cabeça esquenta,esquenta,fumaça...O povo da rua já desconfia, os vizinhos perguntam que mal cheiro é esse.Disfarço com sopros.Um deslocamento dentro do habitat dito seu.Todos os lados iguais,um quadrado perfeito,quase irritante.Sejamos bem vindos aos limites, ao controle,aos nós cegos.A apagando alguns termos estranhos,reescrevendo pra ficar bem bonito, beirando uma interpretação de Piaf. Mesmo sem muito repertório,façamos hinos,ao amor,à natureza, aos bares.Benditos bares que nos acolhem, sempre arreganhados para nos recepcionar quando alegres ou tristes,a vista ou fiado.Aprecio muito.Especiais.São atores, cineastas,músicos,artistas em geral todos eles com apresentações rápidas, uma espécie de curta temporada numa galeria particular. São acasos,uns “sem –querer” que surgem,acidentes.Isso deve é sono,sonhos.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Não tô entendendo é nada!

De recesso do mundo.
Estática, inércia.Intima apenas do meu,poucos sentidos.Línguas emboladas sem conteúdo.As pessoas tagarelam demais,e nada fazem. Ouvi conversas vãs de uns falsos lordes se aproximando.Com seus suaves beijos ,seduzem facilmente.Onde estão os referenciais? Poucos heróis, muitos morreram desconsolados.Os mestres são demitidos por seus discursos libertários.Calem-se!Os negociantes gritam.As piadas contadas aos prantos de um desespero de quem auto se cega como refúgio da confusão.O riso entalado não sai.Um cansaço toma conta dum corpo magro e negro que apenas insiste na mera tentiva de uma tal felicidade comentada.Um longo intervalo se faz necessário.Pausa para uma reflexão sobre sérias decisões a beira dos 20 anos.Trovões vieram,a calmaria também, todas as estações,enfim, o tempo passou,nos engole.Olhando o branco misturado ao azul lá de cima, é possível ver sinais de mudança,de um supremo escondido por entre as nuvens olhando curioso cada passo e tombo dado.Testemunho dos ônibus as ruas tomadas por luzes, luzes artificiais que relembram vagamente o clarão que deveríamos reacender a cada dia.São verdadeiros espigões enfeitados transparecendo um espírito natalino de um vizinho que não fala com o outro.Talvez devaneios loucos,talvez palavras de uma sexta a noite não regada a uma gelada, num bar de parede ao som boêmio(e que bom som).Um ritual, uma celebração.Meu cachorro vira –lata sempre me recebe na calçada alegre e saltitante, também quisera eu ter suas preocupações.

Jogando palavras,as solto e elas voam